“A lógica das Ciências Morais”, publicado na metade do século XIX, foi o ultimo livro do Sistema de lógica de John Stuart Mill. O autor, considerado um dos melhores filósofos e economistas liberais do século, fez desse livro um dos textos fundadores das Ciências Sociais, tentando demonstrar que apesar das suas diferenças com as ciências naturais -que ele considerava como o único caminho para poder atingir o verdadeiro conhecimento-, de propriedades, de metodologias e de natureza bem diferentes, existe não apenas a ciência da natureza humana como também a do conjunto da sociedade.
Mesmo se os fenômenos que acontecem dentro da sociedade (diferentemente dos fenômenos estudados pela matemática ou pela física, por exemplo) não podem ser submetidos à verificação pela experiência empírica, e precisam utilizar outros métodos, isso não tira deles a validade científica.
No capítulo 1, Observações introdutórias, Mill faz uma breve análise da metodologia usada pelas que hoje consideramos ciências nos seus primordios, quando ainda não se tinha noção da necessidade de um método rigoroso. Sendo assim, os primeiros progressos, avanços e descobertas da ciência aconteceram mais de forma casual do que pela busca de um método e uma racionalização científico.
[...] No caso da existência de dois países com características diferentes, sendo um deles defensor de um tipo de política econômica (seguindo o exemplo do texto, restritiva) e o outro aplicando uma política contrária, poderia se deduzir que as diferenças no âmbito econômico entre esses países se explicam pela aplicação ou não de uma política restritiva. Só que aqui se cometeria, de novo, um erro metodológico, já que nas Ciências Sociais um fato nunca é determinado por uma causa única, portanto outros fatores teriam influído nas diferentes situações econômicas de ambos os países raciocinando desta forma, não seriam levados em conta. [...]
[...] Portanto quando uma ciência ainda não possui todos os elementos necessários para tornar-se uma ciência exata, quando não conhece todas as causas ou todos os fenômenos suscetíveis de influenciar as leis gerais formuladas por ela, não se deve a uma inferioridade dessa ciência, mas à natureza e à multiplicidade de todos os fenômenos que interagem na formulação das leis ou teorias científicas. Isso também não significa que sejam ciências inúteis, já que permitem emitir conclusões às vezes totalmente exatas, outras aproximadas, portanto permitem também a adaptação de determinado comportamento pelo ser humano que pode ir mudando em função destas mesmas conclusões e previsões. [...]
[...] No entanto, para as ciências sociais, o comportamento estudado por separado de cada um dos indivíduos só é importante para determinar o comportamento de grupos maiores e poder assim emitir regras gerais ao respeito de coletividades. Porém isso é possível através do estudo das causas gerais que encontramos de forma comum na maioria dos seres humanos, em vez das causas individuais. Só assim é possível prever com uma exatidão quase total, de tal forma que “equivale a proposições universais” na ciência política e nas ciências sociais. [...]
[...] Isso explica o porque de no século XIX parecer ser impossível a existência da Ciência Política ou das Ciências Sociais, debate que continua vigente na atualidade, mesmo se virou mais comum a aceitação do caráter científico dessas disciplinas. Num primeiro momento, o autor fala disso como um “preconceito”, só que depois ele vai justificar parcialmente a visão daqueles que não acreditam numa ciência da sociedade. Sendo assim, ele faz uma comparação com a situação da medicina antigamente, pois se procuravam soluções quando aconteciam problemas de saúde específicos sem tentar estudar as leis ou as teorias sobre essas complicações de um modo mais geral. [...]
[...] No entanto (nos capítulos estudados pelo menos), Mill se concentra demasiadamente em estudar os métodos que se aplicam de forma errada às Ciências Sociais, sem analisar quais seriam os métodos mais apropriados e que poderiam outorgar a essa disciplina a validade e a legitimidade adquiridas pelas Ciências Naturais séculos atrás. O que provavelmente seria mais útil, por sua vez, para combater todos aqueles que acham que não existe uma ciência da sociedade, ou que embora defendam a existência desta, aplicam os métodos equivocados, tão fortemente criticados pelo autor. [...]
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