Neste relato, o narrador descreve-nos as grandes etapas da sua infância e, nomeadamente, a sua formação. Nesta obra, a formação do narrador vai ser na realidade uma dupla formação ou, melhor dito, uma formação e uma deformação. De facto, uma formação imposta pelas instituições da sociedade e uma deformação feita pela escolha do narrador e que implica o livre arbítrio. Vamos então aqui tentar ver em que medida é que estas duas formações vão ser dispensadas em paralelo e quais vão ser os impactos delas.
[...] E o caso de Emilia, a prima do narrador, que o vai ajudar sem se opôr à formação convencional, mas que também não é verdadeiramente uma figura desta formação; é neutra. O narrador vai pedir ajuda a Emilia para dirigir-lhe a leitura quando o pai recusa continuar a acompanhar a sua leitura no capitulo "Os astrônomos". Emilia vai convencê-lo a ler sozinho, dando-lhe confiança em si ("Emilia respondeu com uma pergunta que me espantou. Porque não me arriscava a tentar a leitura sozinho? [...]
[...] O romance de formação vai evoluir ao longo do tempo. Com efeito, na época do seu aparecimento, as personagens do romance de formação refletem pouco sobre o sentido da sua existência, ao passo que a partir do seculo XIX, estas personagens vão refletir sobre as suas experiências para tirar conclusões sobre o sentido da vida. E tambem, a partir do século XIX, que o romance de formação vai ser integrado em romances autobiograficos como é o caso em obras como: L'Enfant de Jules Vallès ou de Infância de Graciliano Ramos. [...]
[...] Esses retalhos me excitavam o desejo, que se ia transformando em idéia fixa. [ ] E onde conseguir livros?" (p.211). Finalmente o narrador vai também encontrar modelos nas instituições sociais. Primeiro, na sociedade em geral, com o fazendeiro José Leonardo. De facto, José Leonardo, através das suas viagens ao Pico com o narrador, vai familiariza-lo com a natureza . ] Fiquei tempo esquecido na engenhoca, admirando bois encangandos, a mover-se em redor de um eixo, a cana a triturar-se em moendas de pau, o caldo a esguichar numa calha que despejava na primeira tacha do assentamento. [...]
[...] De facto, esta violência injusta vai até ser praticada pela criança o que marca, duma certa forma, o sucesso da educação dos pais dado que o filho reproduz o esquema com o moleque José. O moleque José é um amigo do narrador que é castigado pelo pai porque fez asneira o narrador, em vez de defendê-lo e de mostrar solidariedade, ajuda o pai: "Quando meu pai se tinha irado bastante, segurou o moleque, arrastou-o à cozinha, segui-os, curioso, excitado por uma viva sede de justiça. [...]
[...] Esta segunda etapa da formação religiosa vai ser marcada pela intervenção de figuras eclesiasticas mais simpaticas e que são apreciadas pela personagem, como Seu Nuno ("Impressionaram-me nessa época; além de missas, confissões, batizados e casorios, as visitas a Seu Nuno, durante a aprendizagem. Familiarizei-me: findo o acanhamento, entrava sem pedir licença como se a casa fosse minha. Gente agradavel: a velha miuda, as moças risonhas e tranquilas, que se moviam como peças de maquina vagarosa, o rapaz ordenado de fresco.", p.183) e o padre Pimentel ] Era uma santa criatura e insinuou-me alguns conhecimentos, os primeiros que aceitei com prazer. Padre Pimentel admitia duvidas e aclarava os pontos obscuros. [ p.183-184). [...]
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