Vamos estudar a lira XVIII da colectânea de poemas Marília de Dirceu, escrita pelo autor árcade Tomás António Gonzaga, que também participou na Inconfidência Mineira, no século XVIII. A obra é dividida em duas partes, esta lira pertencendo à primeira. A obra é uma declaração de amor do eu poético, Dirceu, à Marília, a sua musa. Ao contrário da maior parte das liras, o tema principal da lira XVIII não é o amor mas a fatalidade da morte e o tempo que passa. Após termos estudado a estrutura do poema, veremos a visão dum lado da velhice, e do outro, da morte, segundo Dirceu.
[...] Eis o locus amoenus de Dirceu, um lugar aprazível e ameno, característica do Arcadismo. III - A Morte o tempo que passa; nostalgia O tempo é o grande problema de Dirceu, só o descreve de maneira negativa "impio" (=cruel). De facto, desde a primeira estrofe, fala do seu carácter intangível, o tempo é-lhe roubado, e ele é impotente, já que não pode pará-lo tempo arrebatado"). O tempo é tão destruidor, que até consegue atingir o bronze, material conhecido pela sua resistência ("que o mesmo bronze gasta") . [...]
[...] Nas frias tardes, em que negra nuvem Os chuveiros não lance, Irei contigo ao prado florescente: Aqui me buscarás um sítio ameno; Onde os membros descanse, E o brando sol me aquente. Apenas me sentar, então movendo Os olhos por aquela Vistosa parte, que ficar fronteira; Apontando direi: falamos, ó minha bela, vi a vez primeira.” Verterão os meus olhos duas fontes, Nascidas de alegria: Farão teus olhos ternos outro tanto: Então darei, Marília, frios beijos Na mão formosa, e pia, Que me limpar o pranto. Assim irá, Marília, docemente Meu corpo suportando Do tempo desumano a dura guerra. Contente morrerei, por ser Marília Quem sentida chorando Meus braços olhos cerra. [...]
[...] Enrugaram-se as faces, e perderam Seus olhos a viveza; Voltou-se o seu cabelo em branca neve: Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo, Não tem uma beleza Das belezas, que teve. Assim também serei, minha Marília, Daqui a poucos anos; Que o impio tempo para todos corre. Os dentes cairão, e os meus cabelos, Ah! sentirei os danos, Que evita só quem morre. Mas sempre passarei uma velhice Muito menos penosa. Não trarei a muleta carregada: Descansarei o já vergado corpo Na tua mão piedosa, Na tua mão nevada. [...]
[...] Contudo, esta passagem para o lado da morte não é penosa, já que Marília o acompanha. O apaziguamento que lhe traz Marília O eufemismo, na forma duma metáfora, do primeiro verso da penúltima estrofe consta do estado de Dirceu. Com efeito, ele está a chorar, de alegria porque Marília está presente, mas também de nostalgia, já que chegou ao fim da sua vida. No entanto, está apaziguado, sossegado, o que é posto em relevo com o ritmo lento do verso. [...]
[...] Finalmente, a morte de Dirceu a vivida com alegria (“contente morrerei”) e como um alívio - já não precisa de lutar - e porque a Marília está ao seu lado. O poema encerra-se ao mesmo tempo que os olhos de Dirceu, fechados por Marília. Conclusão A longo do poema, seguimos o caminho de Dirceu até à morte. Contudo, esta "viagem" não é dolorosa, graças à presença de Marília que o guia, e também porque marca o fim duma luta desesperada contra o tempo. Lira XVIII Não vês aquele velho respeitável Que à muleta encostado Apenas mal se move, e mal se arrasta? Oh! [...]
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