Em 1936, o historiador Sérgio Buarque de Holanda publica Raízes do Brasil, onde procura definir a essência do homem brasileiro. Defende a tese do “homem cordial”, fruto da cultura lusitana, e da estrutura política, econômica e social instável de famílias patriarcais e escravagistas. SBH mostra que os povos ibéricos ficavam às margens da cultura européia, sendo menos submetidos a uma hierarquia feudal, e tornando-se os pioneiros no mercantilismo e nas navegações. Uma frouxidão organizacional, portanto uma liberdade maior, uma “mentalidade moderna”, colocavam os homens numa igualdade de condição, cada um dependendo de si. SBH propõe um conceito de aventureiro ibérico, animado por um desejo de novas sensações e de consideração pública, que ele contrapõe ao do trabalhador nórdico (cf. colonização holandesa). O aventureiro seria o homem do espaço, e seus valores, a audácia, a irresponsabilidade, a vagabundagem permitiram a colonização do país, começando pelo litoral e concretizando-se com a implantação das feitorias.
[...] Assim como os europeus começavam a integrar formas artísticas de culturas consideradas como a Africana e a Polinésia, os modernistas brasileiros propunham fundir elementos da cultura popular e erudita, valorizando a multiplicidade cultural brasileira, desde as variadas culturas dos índios até a cultura negra. O Manifesto Antropófago de 1928 atacava a missionação e a herança portuguesa e européia de modo geral (por exemplo o símbolo da Europa clássica, Goethe). Inspirou-se, entre outras coisas, no papel simbólico do canibalismo nas sociedades tradicionais, onde somente os inimigos de grande valor eram comidos, para tornar o vencedor mais forte. Ele atualizou este conceito expressando que a cultura brasileira, digerindo a cultura européia, tornou-se superior a esta. [...]
[...] Alguns exemplos históricos mostram o contrário, mas a maioria dos movimentos históricos de rebelião contra a elite (fascinada pela Europa) eram, de fato, longe de ser tão populares quanto os seus protagonistas alegavam. Não pretendo detalhar esta análise psicológica e política da sociedade brasileira, mas ressaltemos que, apesar das dificuldades, a implantação da cultura européia, mesmo que misturada com outras influências, conseguiu se impor e ser adotada em lugar das culturas genuínas dos índios. Esta eterna tensão característica entre a cultura européia e as culturas autóctonas explica fenômenos essenciais da cultura brasileira. Eu queria dar um exemplo da importância desta absorção e das suas conseqüências. [...]
[...] Portanto, a revolução silenciosa rumo à saída do país desta ignorância secular, diz o autor, só iria desencadear-se a partir da abolição do escravagismo em 1888. A sociedade começara a ser arrasada do mundo rural para o mundo urbano, fenômeno novo, que junto com a forte mestiçagem brasileira iria permitir a constituição de uma sociedade moderna, livre, nacional. Como, no entanto, implantar uma ordem e uma cultura européia num território tão vasto e tão distinto das terras da razão e do positivismo? Houve muita dificuldade na transição para o trabalho industrial no Brasil, onde muitos valores rurais e coloniais persistiam. [...]
[...] Implantação da cultura européia as origens da sociedade brasileira, pág Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda Em 1936, o historiador Sérgio Buarque de Holanda publica Raízes do Brasil, onde procura definir a essência do homem brasileiro. Defende a tese do “homem cordial”, fruto da cultura lusitana, e da estrutura política, econômica e social instável de famílias patriarcais e escravagistas. SBH mostra que os povos ibéricos ficavam às margens da cultura européia, sendo menos submetidos a uma hierarquia feudal, e tornando-se os pioneiros no mercantilismo e nas navegações. [...]
[...] A multiplicidade das origens culturais hoje, é mais do que nunca valorizada e considerada constitutiva da cultura brasileira. Contudo, os índios e negros não são mais os “autóctones” do discurso moderno, enquanto este discurso continua sendo, quase sempre, o da elite cultural branca das metrópoles brasileiras, que decide dos elementos a serem incorporados ou não na “cultura popular”. As grandes oposições se mantêm no decorrer dos séculos, mostrando que a questão da relação à cultura européia e às culturas indígenas e negras ainda é, além de recorrente na história brasileira, muito atual. [...]
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